4.2. Rapel
Nessa situação, as forças são praticamente estáticas (veja figura 2).
O peso suportado pela ancoragem é o peso do escalador, e como vimos anteriormente, quando o escalador aplica alguns solavancos na corda, a força peso dobra de valor. O solavanco é necessário durante o teste do sistema de rapel, quando o escalador, ainda preso na ancoragem, aplica um solavanco no aparelho de rapel, para verificar se tudo está devidamente preso. Somente após esse teste, ele inicia o procedimento de descida pela corda.

Às vezes, durante a descida, o escalador precisa parar para recolher algum equipamento, desprender a corda de obstáculos ou até mesmo corrigir a sua trajetória. Nesses momentos também podem ser gerados solavancos.
Lembre-se que durante o rapel você está preso a um único sistema de ancoragem, com a corda sob tensão, e, às vezes, ainda com o atrito da rocha, valendo assim a máxima do “mínimo impacto no sistema”.
4.3. Escalada guiada – queda do escalador-guia
Quando as forças são dinâmicas, as forças de pico são bem maiores que as forças estáticas. Por isso, usamos sistemas de ancoragem que, integrados à corda e com a atuação do segurador, formam o sistema de segurança global da escalada, que tem o objetivo de parar vagarosamente o escalador, evitando assim que as forças de pico atinjam níveis causadores de danos físicos e de equipamentos (veja figura 3).

A força de pico atingida por um escalador em queda ocorre em uma fração de segundo, no mesmo tempo em que ocorre a força de pico no segurador. Em praticamente 1 segundo após a queda, todo o sistema atinge o repouso.
De forma geral, muita coisa acontece, e rápido, durante a queda. Isso nos dá a falsa impressão de que tudo está fora do controle, e a única coisa que pode ser feita é o segurador travar a corda o mais rápido e forte possível.
Entretanto, outras coisas podem ser feitas, como a montagem adequada do sistema de segurança e maior atenção do segurador durante a escalada do escalador guia.
Teoricamente, aplicando-se conhecidas fórmulas para calcular todas as forças envolvidas durante uma queda, os valores obtidos são bem altos. Na prática, essas forças atingem valores um pouco mais baixos, pois há uma série de variáveis, difíceis de equacionar, como o tipo e a espessura da corda, o número e o tipo de proteções, a geometria da via e a absorção de energia por nós e aparelhos de segurança, que trazem essas forças para níveis mais baixos.
Vamos analisar as forças nos três pontos envolvidos nesse triângulo: o segurador, a última ancoragem e o escalador-guia.
Segurador: Numa situação estática, uma mão pode aplicar uma força de 0,18 KN por 1 segundo, o que seria insuficiente no caso de uma queda. Para dar uma “mãozinha” a essa mão, utilizamos aparelhos de segurança, que nada mais são que multiplicadores de força de atrito.
A força de pico na corda do segurador pode atingir até 3 KN, com pequeno deslizamento da corda. Essa força pode ser reduzida em até 15% caso o segurador desloque seu próprio corpo até 1 metro para frente, na direção da força.
Esse procedimento também ajuda a reduzir a energia da queda sentida pelo escalador.
Então, sair correndo para trás no momento da queda pode até parecer uma boa estratégia, mas na maioria dos casos só aumenta as forças de pico, pois haverá as somas do solavanco do escalador-guia em uma ponta com o solavanco do segurador na outra, fazendo aumentar a força de pico na última ancoragem e, consequentemente, sobrando mais energia para o guia.
Aqui vale a pena fazer uma observação sobre os aparelhos de segurança. Os denominados autoblocantes, como o Grigri, tendem a travar a corda rapidamente, sem deixá-la correr um pouco. Podem ser confortáveis para o segurador, mas fazem com que sobre mais energia e força à última ancoragem e ao escalador-guia.
Muitas vezes, o uso desse tipo de equipamento é justificado pelo fato de o segurador ter pouca experiência ou de se sentir inseguro para segurar o escalador-guia em queda. Seria como se esses aparelhos fossem à prova de falhas. Mas não o são, principalmente em relação a falhas de manuseio.
Bem, o que vemos então é que realmente o papel do segurança é fundamental durante um evento de queda e que, quanto mais experiente ele for, melhor será o seu procedimento. Nesse caso, ampliar a sua capacidade técnica de manuseio de outros equipamentos e de alguns nós vai ajudá-lo a melhorar suas habilidades de segurador.
Escalador-guia: A força na corda no escalador-guia terá o valor equivalente a 150% da força aplicada na corda do segurador. Esse valor maior se deve ao atrito da corda com o mosquetão na última ancoragem.
O corpo humano pode suportar uma força de até 12 KN. A partir desse valor, ele pode sofrer danos – para se ter uma ideia do que isso significa, imagine-se deitado com um cobertor de 1.200 quilos sobre você. Por isso, uma norma da Federação Internacional de Montanhismo e Escalada (UIAA) determina que as cordas de escalada devam ser construídas de forma a absorver a maior parte da força da queda, transmitindo para o escalador uma força abaixo desse valor suportado por ele. Essa característica é chamada de força de impacto e vem declarada na embalagem da corda, juntamente com seu comprimento, diâmetro e gramatura. As cordas modernas têm força de impacto de 8 KN, em média.
Última ancoragem: Quanto mais corda e pontos de proteção houver entre o segurador e o escalador, maior será a absorção de energia por esses elementos, e menor será a força de pico.
A última ancoragem sofrerá a soma da ação de duas forças – a da corda do segurança e a da corda do escalador-guia – que em um sistema simples, com uma única ancoragem, pode atingir até 7,5 KN.
Para termos uma ideia do que seria essa força, se essa ancoragem estiver em uma chapeleta bem fixada, sua carga máxima será de 25 KN. Já um equipamento móvel do tipo “cam” suporta 14 KN. Nuts médios/grandes entre 4 e 10 KN.